Pirataria no Brasil: o reflexo da desigualdade e do alto custo dos streamings

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🔥 Pirataria não é o crime — é o sintoma: o Brasil que paga pra sobreviver

Nos últimos meses, plataformas como Eppi Cinema, Duna TV e My Family Cinema desapareceram do mapa digital depois de uma operação internacional. Servidores apreendidos, domínios derrubados — e milhares de brasileiros pedindo reembolso por um serviço que, juridicamente, jamais foi legal.

O custo de viver e o preço da cultura

O salário mínimo brasileiro em 2025 é de R$ 1.512. Desse valor, uma parcela é descontada para previdência: 11% do INSS para trabalhadores CLT ou até 14% para regimes de previdência própria. Com isso, o salário líquido mal cobre despesas básicas:

  • Aluguel: R$ 700
  • Luz: R$ 200
  • Água: R$ 65
  • Gás: R$ 30
  • Internet: R$ 100

No fim do mês sobra pouco (ou nada) para alimentação, transporte e lazer. Diante dessa realidade objetiva, quem vai preferir gastar R$ 200–R$ 300 por vários serviços de streaming legais quando há uma alternativa pirata cobrando uma fração desse valor?

O monopólio da cultura

O catálogo cultural foi fragmentado entre plataformas: Netflix, Disney+, Prime Video, Max, Globoplay, Paramount+ e outros. Somados, os custos mensais facilmente ultrapassam R$200. Para quem vive no limite, esse preço representa uma barreira — e a pirataria, uma porta de entrada para consumo cultural.

Matemática da sobrevivência: um app pirata que ofereça conteúdo por R$20 representa, para muitos, a diferença entre ter acesso ou não ter.

A repressão sem contexto

Operações como a chamada Operação 404 mostraram capacidade técnica e coordenação transnacional: milhares de sites e apps derrubados, centenas de servidores apreendidos. Mas atacar a oferta sem olhar a demanda é apenas parte da solução — e, quando muito, um paliativo.

Pirataria como exclusão digital

Relatórios internacionais indicam que o Brasil figura entre os países com maior consumo de conteúdo pirata. Isso não nasce na imoralidade individual; nasce na desigualdade. Quando cultura e entretenimento viram mercadorias inacessíveis para a maioria, a alternativa ilegal floresce.

"A pirataria não é rebeldia; é adaptação."

A hipocrisia do sistema

Muitos que condenam a pirataria praticam formas menos visíveis de economia informal digital: compartilhamento de senhas, downloads pontuais, listas em aplicativos de mensagens. A diferença social está em quem pode justificar o comportamento com um eufemismo — enquanto o mais pobre recebe a tag de criminoso.

O que deveria mudar

Se a meta for reduzir a pirataria de maneira sustentável, é preciso combinar repressão com políticas de inclusão cultural:

  • Modelos de assinatura com preços populares ou pacotes sociais.
  • Ampliação de conteúdo gratuito e financiado por mecanismos públicos ou parcerias.
  • Campanhas de educação sobre direitos autorais que considerem o contexto econômico.
  • Iniciativas regionais de produção e distribuição cultural mais acessíveis.

Conclusão: o crime está na desigualdade

Combater a pirataria é legítimo. Mas fingir que ela é apenas crime é desonestidade intelectual. O verdadeiro crime é um modelo econômico que empurra trabalhadores a escolher entre pagar o gás ou ver um filme. Até que isso mude, a pirataria seguirá sendo o plano popular da cultura.

Luciano Pereira Mendes

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